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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ESPERANDO A MORTE

Coloco aqui mais uma mensagem do livro que tive a alegria de psicografar - Os Filhos de Lázaro - onde ex-hansenianos, após o desencarne, voltam para falar de suas experiencias. São lições extraordinárias que, espero, lhes sejam úteis tambem. Essa é do Valdomiro, que não tive a honra de conhecer.


"Mesmo para quem experimentou a "lepra" corroendo-lhe o corpo, a espera da morte pode ser de uma estranha sensação de impotencia. Sabe-se que ela virá, não se sabe quando. Sei que alguem pode dizer que todos sabem que a morte virá sem saber quando mas me refiro a ótica de quem se encontra enfermo, incurável e sentindo o desfalecimento orgânico paulatinamente.

Os últimos cinco anos de minha existencia física foram marcados por profundas reflexões. Ardia constantemente em febre, as feridas se abriam quais flores dolorosas, mas uma lufada de luz sustentava-me os pensamentos num clima de esperança. Havia escutado algumas explicações espíritas a respeito do mal de Hansen e sobre a vida após a morte. Confesso, porem, que ouvi muito mais sobre a minha doença na acústica da alma. Era em meu pensamento que mais escutava sobre a necessidade do que estava passando. Eu guardava a certeza de que não conversava comigo mesmo. Era uma voz muito nítida, amiga e suave, tranquila e tranquilizadora. O meu compromisso com a "morféia" tinha raízes imensas, fincadas no passado distante.

Noites à fio esperava não amanhecer. Quando parecia que não resistiria a mais uma madrugada de agonia, eu recebia o beijo do sol em mais uma alvorada.

Creio que muitos chegam à pátria dos Espiritos com mágoa. Mágoa de ter deixado o mundo. Os apelos do planeta são vigorosos para quem não espiritualizou aspirações. São algemas poderosas que mesmo agindo sobre os sofredores não afrouxam suas correntes. Despreender-se é complexo e aí compreendemos um pouco mais a função da dor. Despe-nos lentamente dessas amarras, calcinando os referenciais humanos. A construção das asas libertadoras é exercício de paciencia. Falo dessa forma porque minha experiencia foi exatamente assim. Ansiei pela desencarnação e quando ela adveio, senti-me magoado, impotente, saudoso do mundo. Foi preciso divisar, algum tempo depois, a doce luz da imortalidade, o aroma caricioso de ambientes mais rarefeitos, a presença amorosa dos braços afetuosos dos meus pais para que sentisse partir as amarras do mundo.

Não me revoltei com a doença e isso foi o passaporte para a situação confortável de agora. Mais que confortável, bem feliz, principalmente se comparada à realidade vivida na Terra. Ao invés do corpo alquebrado, purulento, encontro-me sadio, leve, tocado por uma sensação de bem estar inefável. Conforme afirmam os amigos que me amparam, esta sensação é o resultado do que foi drenado durante o estágio no mundo. A hanseníase expurgou da consciencia amagas energias que foram construidas em insanas passagens pelas vias da carne. Agora sinto como se tivesse recebido uma carta de alforria. Sinto a liberdade como um dia permanente de sol e a mágoa não existe mais, só um sentimento de gratidão. E aprendi quão complexa é a mente do espirito. Ninguem ouse interpretar os motivos que levam ao surgimento desta ou daquela provação. O engano frequentemente ocorre pois a mente humana encontra-se limitada pelas grades da carne. Estamos longe de entender o funcionamento da Grande Lei, com seus caminhos por ora insondáveis mas, certamente, caminhos de amor.


VALDOMIRO

Um comentário:

  1. Frederico,

    Que belo texto esse do senhor Valdomiro!
    Você está me deixando curiosa para ler seu livro, Os Filhos de Lázaro.
    Cada mensagem mais linda que a outra.

    Amigo, senti falta das suas lindas reflexões ontem. Realmente, Frederico, seu blog vicia! hehe


    Abraço meu amigo


    Cris

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