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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

UMA VIDA CHAMADA VARLINDO

Por mais de vinte anos tive a oportunidade de realizar, ao lado de muitos companheiros, um trabalho no hospital colonia para hansenianos da Mirueira, na cidade de Paulista, área metropolitana de Recife. Foram grandes lições e momentos de profundo encanto espiritual. Fatos da espiritualidade maior ocorreram nessas visitas que o tempo guardou com gosto de saudade.

Ainda hoje desfila em minha memória as personagens marcantes daquele hospital. Vidas que lá foram deixadas internadas por parentes que nunca mais voltaram para reve-las ou resgatá-las. Era ainda resquício do preconceito. Dulce, Dolores, cheia de ternura maternal, Enedina e sua disposição solidária, Berna, Edwirges, Oscar e Ana, o outro Oscar, que se denominava o falso Oscar...

Uma figura se destaca mais vigorosamente neste instante e é sobre ele que gostaria de falar: Varlindo. Em 1981, quando fomos à colônia pela primeira vez, Varlindo nos deu a primeira grande e singela lição. Nunca mais pude esquecer. Chegamos entregando donativos para os internos da primeira enfermaria. Sabonetes, escova de dente, roupas, lanches e abraços. Quando íamos saindo para a segunda ala, eis que Varlindo chama pela nossa equipe e disse: - "Voces nos trouxeram tanta coisa boa e que estávamos precisando mas estão saindo sem nos dar o que a gente mais carece: uma prece. Façam uma prece pra gente." Nos olhamos envergonhados, oramos com todos daquela enfermaria e assim o fizemos em todas as outras.

Varlido, à época, andava num carrinho. Estava com as mãos em garra e enxergava muito pouco. Locomovia-se no carro. Conversando com ele, nos impressionava seus conceitos filosóficos, sua moralidade, sua espiritualidade e resignação. Como muitos ali, estava há mais de trinta anos interno, distante do mundo, esquecido pela família. Sorria, no entanto. Mostrava alegria e muita fé em Deus. Era um gigante preso a um carrinho.

Já nos seus últimos anos na Terra estava completamente cego, deitado numa cama, sem as pernas ( só possuia o tronco) e permanecia ensinando e sorrindo. Uma das minhas ultimas conversas com ele me falou que pedia à Deus mais alguns anos de vida na carne. Mas ressaltava que não era por medo de morrer pois via espiritos cercando seu leito e sabia que a morte n~so existia. O motivo do seu desejo era poder, quando a morte chegasse, estar com as malas recheadas de experiencia para bem ter aproveitado a encarnação.

Depois de sua morte continuou nos beneficiando. Tive a honra de psicografar um livro só de ex- hansenianos ( vim a entender mais adiante essa ligação minha para com a lepra). Um dos espiritos a ditar seus pensamentos foi o Varlindo. Mais adiante vou colocar no blog uma de suas mensagens. Varlindo era UMA VIDA. Vida que valia por inúmeras. Vida que me inspira, de alguma forma. Pense nela, caros amigos. E que essa vida possa lhes ser útil, proporcionando a revisão da própria existencia.

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