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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ADÃO

Aqui em minha cidade tinha uma dessas figuras consideradas folclóricas. Recordo bem sua imagem simpática, de compleição vigorosa, rosto de traços fortes e barba por fazer, olhos miúdos e sorridentes, cabelos bem curtos, moreno, cerca de 1, 75 de altura. Chamava-se Adão. Tinha um problema de retardamento mental. Mente infantil. Coração de criança. A gurizada adorava Adão ( alguns tinham medo dele).

Adão era muito querido na cidade. Vivia de carregar feiras das pessoas que compravam nos supermercados ou ajudando em alguma pequena construção. Havia uma padaria que ele era quem carregava a lenha para o forno. Em todos esses serviços, Adão não aceitava dinheiro. Só queria comida. Não havia quem conseguisse faze-lo aceitar dinheiro. Claro que algumas pessoas o exploravam por causa de sua ingenuidade, de sua pureza. Era comovente o carinho de Adão pelas cianças e a bondade inata que apresentava.

Foram anos convivendo com sua figura mal vestida, sem camisa e sorridente. Sua fala, conquanto grave, possuía um toque infantil. Ouvindo-o falar, perdia-se qualquer receio de sua figura. Sua voz era aquecida, despojada de convencionalismo. Algo nele me fazia recordar a figura do grande santo de Assis. Era sua pureza, sem dúvida.

Um dia a cidade acordou com a notícia da morte de Adão. Não recordo a causa. A cidade se comoveu. Nesse dia, parecia que havia um véu de tristeza no ar. O amigo dos velhinhos e das cranças havia partido. Mas a maior emoção foi no seu sepultamento, que saiu do abrigo São Francisco De Assis. Uma multidão acompanhou o féretro. Carregava o caixão médicos e empresários da cidade. Muitos choravam. E o povo simples recordava, com lágrimas nos olhos, aquele que deixara uma lição magnífica de como viver na simplicidade dos pássaros, sem maiores necessidades criadas pela estrutura de civilização que forjamos. Acompanhei com os olhos saudosos o enterro de Adão.

Anos se passaram. Certa feita, em uma das nossas reuniões mediúnicas, um belo espirito se apresenta, vestido de suave luminosidade. Lúcido, trouxe-nos encantadora mensagem. E não consegui conter a emoção ao identificar, no nobre comunicante, o nosso querido Adão. Me parece que trouxera um espirito para que fosse assistido em nossos trabalhos. A lição que já conhecíamos no Evangelho Segundo o Espiritismo se repetia. Ali estava alguem que passara na Terra sem credenciais sociais mas que, na dimensão invisível, se assemelhava a um rei. Era a supremacia do espirito sobre qualquer posição na Terra. E é o que vale para Deus e para a vida plena.

2 comentários:

  1. Se texto sobre Adão me emociounou muito. Parece até que ele estava perto de você quando escrevestes esse post.
    Suadades de tu, viu?

    Abraços!

    (Semeador de estrelas)

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  2. Belissímo exemplo. ilustram perfeitamente o caminho que devemos seguir nessa terra.

    abraços,

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