A DELICADEZA DE UM NOVO TEMPO - FINAL DE NOVELA

Não assisti a novela "Amor à Vida", apresentada no horário nobre da globo. Com certeza, pelos próprios comentários que escutei bem como algumas raras partes que vi quando estava em minha residencia, muitos valores distorcidos alimentaram a trama. Violência, traição, ausencia de educação, coisas, infelizmente, que se espraiam no cotidiano. Gostaria,no entanto, de ressalvar o último capítulo do enredo, ao qual, ao chegar dos trabalhos numa instituição aqui em Recife, pude assistir. Para mim, olhando tanto com um olhar de estética quanto da mensagem que trouxe, confesso, me surpreendi positivamente.

Cenas de pura emoção e ternura encantadora. Conteúdo de renovação, mudança moral, arrependimento e reconciliação. E, sobretudo, através do personagem Félix, a beleza do exemplo de transformação íntima e de perdão. Mais que isso, o exemplo de amor incondicional pelo pai, que o rejeitava há muito. Em sua limitação física, foi exatamente o Félix quem o assistiu espontaneamente. Ele estabeleceu como parte de sua renovação cuidar do pai. Maltratado por este, suportava tudo e levava-o para o banho de sol, higiene, com um carinho magnífico. A cena final entre os dois foi apoteótica. Linda. Catársica. Pura sensibilidade. Muito diferente dos finais tradicionais e cheios de clichês das novelas.

Trato desse final aqui no espaço pois, ao meu ver, encontra-se cheio de elementos encantadores de natureza espiritual. O que aprendemos no evangelho e no espiritismo foi apresentado pelo escritor Walcy Carrasco ( creio que é este o seu nome). Redenção após arrependimento.  O vilão se transforma e não fica apenas no remorso. Ele vai alem e mostra como devemos fazer: corre em busca de refazer corretamente o que havia feito de maneira destrutiva. É o amor que cobre a multidão de pecados.

A tônica dos sentimentos, em alguns dos momentos que eu assisti, foi tratada com a delicadeza da luz. Até mesmo uma cena que poderia chocar foi amenizada pelo enfoque sobre almas e não corpos. Refiro-me ao beijo dos dois personagens vivendo uma relação homoafetiva. Não sei como a sociedade brasileira recebeu a cena mas penso que, como foi apresentada, deve ter encarado de uma maneira mais singela e leve. Havemos de convir que foi a primeira vez que cena como esta apareceu na dramaturgia novelesca nacional.

Como escritor e com certa alma de artista ( sem presunção, rsrsr ), desejo aplaudir a cena final da novela. Pai e filho olhando na mesma direção: o horizonte com a beleza do sol. E o exemplo do amor de Félix conquistou o amor do pai, seu reconhecimento, o reconhecimento da abnegação, renúncia e amor do filho para com sua limitação. Até sua rejeição à sexualidade do filho não resistiu ao exercício do amor. Eles, de mãos dadas, fitando o mar imenso e a luz do sol, com o pai começando a enxergar de novo, traz uma metáfora: o pai, graças ao amor do filho, voltava a ver a luz, a enxergar o que está alem dos ranços, preconceitos ou não aceitação. O amor resgata das sombras. O  amor é sempre poderoso. O amor incondicional é invencível.